sábado, 1 de março de 2014

Projeto 333 – Prólogo



                Há cinco anos me mudei das casas dos meus pais. Assim mesmo, no plural. Durante 22 anos me dividi entre dois lares amorosos e aconchegantes, e durante 22 anos multipliquei objetos, sapatos e peças de roupa. Carol Caracol então não precisava mais carregar sua mochilinha pra todo lado nem decidir de antemão onde iria dormir naquela noite. E agora, casados, temos que aprender a administrar uma casa em que o lixo não desaparece da lixeira, a louça não se lava sozinha e principalmente, as roupas não voam limpinhas e passadas pra dentro dos nossos guarda-roupas.


                Agradeço todos os dias por ter ao meu lado um homem independente que faz a própria comida e lava a própria roupa. Cultivamos então há cinco anos o gosto e o orgulho de fazer tudo o que sabemos dentro de casa e, caso não saibamos, procuramos aprender. Foi memorável nosso primeiro encontro com a máquina de lavar, face-to-face, um embate titânico homem/mulher e máquina. Olhávamos pra aquilo cúmplices numa inabilidade – dentre tantas outras – que o modelo brasileiro “Casa Grande/Senzala”  nos tinha trazido desde sempre.
                 Digo isto por que a grande maioria d
e nós não sabe mesmo fazer muita coisa em se tratando de casa, e o pior: espera-se que a mulher continue resolvendo as questões domésticas de um marido que nunca passou uma camisa (bem ou mal). Algumas amigas me perguntam se meu marido ‘ajuda’ em casa e eu respondo de volta: “Oi?”. Logo após o casamento, em geral herda-se algum tipo de ajuda doméstica. Mas aqui em casa a gente decidiu assumir o trampo sozinhos.



                E isto tem um preço, é claro.


                Máquina de lavar dominada (me encanta tamanha tecnologia: modo amaciante, função delicada, molho profundo, mini-carga...quantas possibilidades!) acabei percebendo a duras penas que não havia como viver sendo dona de sua própria bucha e sabão sem modificar as estruturas nas quais fui educada.
                Uma  querida amiga australiana, expert em cuidar da própria rotina, me deu uma vez um precioso e fatal conselho: “Vocês brasileiros ganhariam muito tempo na vida se relativizassem sua noção de limpeza e sujeira.” Incrível como a partir daí comecei a reparar como somos obcecados com esfregar, desinfetar, espanar, torcer, raspar, molhar, ensaboar... Ah, claro, desde que ‘alguém’ o faça pra gente.

                No último Janeiro abrimos maleiros e armários e reavaliamos o que de fato era necessário ter em casa. Presentes de casamento nunca usados, bugigangas que aparentemente fariam o maior sucesso na “vida-de-casada-que-eu-achava-que-teria”. Porque isto também herdamos: o ideal da profissional bem-sucedida E dona de casa que vai receber os amigos em festas incríveis com mil pratos e taças de cristais (porque alguém vai lavar depois, é óbvio).



                Após cinco anos você já sabe mais ou menos bem o que cabe na sua rotina e no seu apartamento, e a necessidade de se adotar um estilo de vida mais prático começa a gritar todos os dias na sua orelha. (Continua...)

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