quinta-feira, 28 de julho de 2011

“Sobre uma história bem contada”... ou “Nem sempre o Low Budget precisa ser tão Low...”


A moda deve ser uma história bem contada. Este mês li um livro muito interessante com uma história muito bem contada, chamado “Falling Angels”. A autora, Tracy Chevalier, é mais conhecida por ter escrito o romance que deu origem ao filme “Moça com Brinco de Pérola”. O filme me impressionou bastante pelas atuações de meus queridos Scarlett Johansson e Colin Firth e mais ainda, pela forma com que Tracy conta suas histórias. O livro “Falling Angels” não é escrito em capítulos, mas em vozes de cada uma das personagens, e através delas a autora fala da relação entre duas famílias tipicamente inglesas na virada do século 19 para o século 20, e lança mão mais uma vez de seu talento para traduzir sentimentos e conflitos através de imagens. É lindo como o filme com Colin e Scarlett consegue transmitir com imagens e primorosa iluminação o que vai dentro dos personagens. 
Em “Falling Angels” a descrição das roupas e acessórios da época é responsável por traçar um perfil interessantíssimo dos costumes - e da quebra deles - durante a virada do século, e como cada um dos membros daquelas famílias reage – e se veste - diante destas mudanças. Chama a atenção como no passado as pessoas tinham bem menos roupas e como cada um dos trajes deveria refletir com clareza o estado de espírito da pessoa de acordo com o propósito de cada ocasião. Os recursos em 1901 eram mais escassos, a indústria da moda era incipiente e uma meia dúzia de vestidos parecia ser suficiente para se adequar a cada estação; filhas herdavam os trajes das mães, pois as roupas não acabavam.
Na segunda metade do século 20 isto se perdeu, na medida em que os códigos de conduta e vestuário ficaram menos rígidos assim como regras, costumes e padrões de controle de qualidade das lojas. Hoje ainda buscamos imprimir no que vestimos certa propriedade ou estado de espírito, mas isto já não diz tanto de nós mesmos quanto de uma repetição do que está nos bombardeando nas vitrines e revistas ou o que foi mais em conta nas araras da promoção de inverno. Comprando produtos apenas porque são mais baratos tendemos a abarrotar nossos guarda-roupas de peças que possivelmente durarão pouco tempo, isto caso escapem do esquecimento – pois uma roupa que compramos apenas por ter custado tão baratinho corre o sério risco de cair no ostracismo do fundão das gavetas de baixo. Aquele vestido sensacional que consideramos mais um investimento que uma comprinha trivial – seja por seu preço ou qualidade, ou perspectiva de vida útil - com certeza terá maiores chances de estrelar casamentos, batizados, noitadas, chás da tarde e aniversários. E quando enjoarmos dele, sempre haverá uma amiga ávida por herdá-lo.
Conheci recentemente duas pessoas que me inspiraram a falar sobre como a moda conta histórias nos dias de hoje. Esta semana fui ao lançamento da coleção de inverno da Reserva, uma grife masculina preocupada com a qualidade de seus produtos e em contar boas histórias. O site já começa mostrando a loja e os produtos de uma forma criativa e agradável, e a navegação pelos links vale a viagem. Conversando com Rony Meisler, diretor da marca, me lembrei novamente da importância de contar histórias através da moda, e de como vale a pena investir em boas peças de roupa. Para os homens, que em geral compram menos roupa, isto parece mais viável, pois eles dificilmente são acometidos de episódios compulsivos de compras em grandes lojas de departamento. Aí está uma bela lição pra nós meninas. Tive também o prazer de conhecer, ainda que apenas virtualmente, a Joanna Moura, publicitária e blogueira do Rio, que lançou seu blog na esperança de economizar dinheiro ficando um ano sem adquirir nenhuma peça de roupa. Jojo quer mostrar pra outras moças pelo Brasil afora que é possível ser feliz sem consumir tanto, unindo higiene financeira a uma importante dose de autoconhecimento, através de uma grande análise combinatória fashion utilizando apenas o que já existe em seu guarda-roupa.
Conversando com Rony e acompanhando o blog da Jojo, comprovo o que acredito sobre a moda contar histórias: quando escolhemos peças especiais e de qualidade, independente de seu preço, marcamos nossos capítulos favoritos e ao revirarmos nosso guarda-roupa, recuperamos memórias e podemos ler ou reler algumas páginas viradas de nossa própria história.

Serviço
·          “Falling Angels” – Tracy Chevalier - http://www.tchevalier.com/fallingangels/index.html
·         Site da Reserva www.usereserva.com
·         Blog da Jojo  http://umanosemzara.blogspot.com

Site Bem Bonita

Há alguns meses tenho escrito para o site www.bembonita.com e daí o abandono do meu Mundo Fabuloso!
Como a vida deve ser sempre o mais Fab possível, re-postarei meus textos aqui pra inaugurar o segundo semestre com idéias, idéias, idéias...



sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

indie tá virando mainstream...

1996: as mocinhas da Savassi olhavam torto pra meu coturno cor de feijão e pra minha camisa de flanela xadrez.
2011: as mocinhas da Savassi USAM coturno e as camisas xadrez (que elas compraram na Farm, lóóóogico, porque agora poooooode)
INDIE TÁ VIRANDO MAINSTREAM??? SOCOOORRO! PRA QUE LADO EU FUJO???
#kurtcobainreviranotumulo

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

EXTRA!EXTRA! CINDERELA TINHA O METATARSO FECHADO!!! (inspirado em Lola Mag - Janeiro)

Coisa boa de se ler num início de ano: "Nem toda mulher nasceu pra andar de salto." Ufa!
Ao contrário do que muitas mulheres acreditam, andar de salto não é apenas uma questão de costume.
A nota da Lola Mag deste mês diz que isto é uma questão estrutural, e me deu um baita sossego.
Hippie de coração e vaidosa por vocação, fiquei tranquila ao perceber o porquê de não me adaptar a - MAIS OUTRA! - imposição femiina.
Também me fez pensar no que usar um impossível salto alto ainda significa pras mulheres de hoje.
Penso que na época das moças das cavernas, fashion era andar descalças pelas savanas, escalar rochas, subir em árvores, nadar no rio e levar os pequenos pra passear no mato. Sobreviveram as melhores adaptadas à rotina bípede.
Aí inventaram o salto alto.
Concordo que é muito elegante quando se sabe usar - e também que tem um potencial absurdo para a deselegância.
Desde os 12 anos danço, rodopio e sapateio em cima do salto e até hoje meus pés clamam pela hora do descalço.
Pernas longas e fortes me garantiram elegância pra andar em cima de qualquer sapato, mas dói. Bolhas, mini jooanetes e calinhos se pronunciam e me perguntam lá de baixo com os olhinhos marejados: "Porque você tá fazendo isso com a gente???". O preço sempre é muito mais alto que o salto em si.
Sempre desconfiei de mulheres que passam o dia calçadas em sapatos de salto alto, pegam ônibus, caminham pelas calçadas horrendas de BH. Quando a gente pergunta elas respondem "É suuuuper confortável...!" Não, moças, não é. Vocês é que perderam a noção da dor. O 'conforto' certamente veio acompanhado de dolorido treino. Vermelhidão, inchaço e encurtamento de tendões. Uma mulher que anda 'naturalmente' por horas em cima de saltos não é saudável.
Se não o pé, a cabeça deve estar cheia de calos.
Isto me faz pensar que a mulherada anda muito equivocada e que a noção de sensualidade continua castigando nossos corpos. Que pra que se sintam atraentes ou à vontade, as meninas e mulherem vivem se escondendo e se machucando - com objetos, acessórios chiquérrimos, com  rotinas e pensamentos. Que nunca são quem realmente são. Que "mas é óbvio que salto é sexy" mata qualquer criatividade. Que dá vergonha ser quem realmente são pois na verdade nenhuma de nós vem com photoshop acoplado. Que não necessariamente quem é mais belo ou sexy (de acordo com os padrões de agora) se diverte mais ou tem mais orgasmos.
(Aliás, conforme a conversa na mesa do Redentor no domingo, as pessoas precisam aprender que sexo é muito mais do que se acredita por aí...mas isto já dá outro texto...)
Foto não tem cheiro, não sente fome, nem calor nem dor.
E as moças descalças das cavernas eram tão inacreditavelmente sexies que deram à luz toda a humanidade!