Há
cinco anos me mudei das casas dos meus pais. Assim mesmo, no plural. Durante 22
anos me dividi entre dois lares amorosos e aconchegantes, e durante 22 anos multipliquei
objetos, sapatos e peças de roupa. Carol Caracol então não precisava mais
carregar sua mochilinha pra todo lado nem decidir de antemão onde iria dormir
naquela noite. E agora, casados, temos que aprender a administrar uma casa em
que o lixo não desaparece da lixeira, a louça não se lava sozinha e principalmente,
as roupas não voam limpinhas e passadas pra dentro dos nossos guarda-roupas.
Agradeço
todos os dias por ter ao meu lado um homem independente que faz a própria comida
e lava a própria roupa. Cultivamos então há cinco anos o gosto e o orgulho de
fazer tudo o que sabemos dentro de casa e, caso não saibamos, procuramos
aprender. Foi memorável nosso primeiro encontro com a máquina de lavar,
face-to-face, um embate titânico homem/mulher e máquina. Olhávamos pra aquilo
cúmplices numa inabilidade – dentre tantas outras – que o modelo brasileiro “Casa
Grande/Senzala” nos tinha trazido desde
sempre.
e nós não sabe mesmo fazer muita coisa em se tratando de casa, e o pior: espera-se que a mulher continue resolvendo as questões domésticas de um marido que nunca passou uma camisa (bem ou mal). Algumas amigas me perguntam se meu marido ‘ajuda’ em casa e eu respondo de volta: “Oi?”. Logo após o casamento, em geral herda-se algum tipo de ajuda doméstica. Mas aqui em casa a gente decidiu assumir o trampo sozinhos.
E
isto tem um preço, é claro.
Máquina
de lavar dominada (me encanta tamanha tecnologia: modo amaciante, função
delicada, molho profundo, mini-carga...quantas possibilidades!) acabei percebendo
a duras penas que não havia como viver sendo dona de sua própria bucha e sabão
sem modificar as estruturas nas quais fui educada.
Uma
querida amiga australiana, expert em
cuidar da própria rotina, me deu uma vez um precioso e fatal conselho: “Vocês brasileiros
ganhariam muito tempo na vida se relativizassem sua noção de limpeza e sujeira.”
Incrível como a partir daí comecei a reparar como somos obcecados com esfregar,
desinfetar, espanar, torcer, raspar, molhar, ensaboar... Ah, claro, desde que ‘alguém’
o faça pra gente.
No
último Janeiro abrimos maleiros e armários e reavaliamos o que de fato era
necessário ter em casa. Presentes de casamento nunca usados, bugigangas que
aparentemente fariam o maior sucesso na “vida-de-casada-que-eu-achava-que-teria”.
Porque isto também herdamos: o ideal da profissional bem-sucedida E dona de
casa que vai receber os amigos em festas incríveis com mil pratos e taças de
cristais (porque alguém vai lavar depois, é óbvio).
Após
cinco anos você já sabe mais ou menos bem o que cabe na sua rotina e no seu
apartamento, e a necessidade de se adotar um estilo de vida mais prático começa
a gritar todos os dias na sua orelha. (Continua...)
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